sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Do paquiderme



Dizem que para domar um elefante, lhe prendem a uma corrente ainda novinho. Nos seus primeiros meses e anos tentará o elefantezinho seguir livre, mas sempre será puxado pela corrente e fustigado pela vara. Ao passar dos anos conhecerá exatamente sua medida e o alcance de sua liberdade. Já cansado de tantas tentativas sossega o espírito ou, quem sabe, o apazigua. Aprende ainda jovem o que pode  e o que não pode. A verdade é que, a corrente não acompanha o crescimento nem a sua força, mas isso pouco importa, porque não será mais demandada em sua tarefa de contenção, sua presença é simbólica. O Elefante não se arriscará a sofrer a dor da frustração nem ao chicote.

Mas, o que acontece quando já gigante descobrir a fragilidade de sua corrente? Sempre imaginei uma fuga sensacional. Obviamente, nos tempos modernos em que vivemos não faltam exemplos de elefantes descontrolados[?] fugindo pelas ruas. O fato é que os ousados são minoria, e fico pensando se todos os que estão sob as correntes são ignorantes de sua força sobre as mesmas. Talvez já tenham descoberto que o preço a se pagar pela fuga quase sempre é o extermínio. E nesse momento o senso de preservação os controla, pior que os elos nem tão fortes do aço, são aqueles que lhe fizeram subserviente a um estado de coisas.

Tem me ocorrido que, talvez, talvez, o elefante sempre soube que pode livrar-se. E, a despeito do seu iminente risco de morte, quando a ideia, ah... a renitente ideia de liberdade o possui,  já se vê dando os primeiros passos e depois a corrida para longe. Não importa se serão curtos os momentos em que viverá livre, serão certamente melhores que uma vida inteira de negação.

E, se escolhe permanecer como se não o soubesse das fraquezas de sua corrente, lembrará muito tempo depois que sempre foi livre, ainda que ninguém o soubesse. Aposentado e preterido, sem correntes, já sem forças para correr ou ir muito longe, se alegrará o velho paquiderme, com lembranças do que poderia ter sido, por onde teria andado livre?

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