domingo, 24 de janeiro de 2021

Saldoce (A 2 mãos)

Era um estranho hábito aquele.
Ninguém jamais soube quando começou.
Antes fora um capricho, uma brincadeira. Que virou mania, depois necessidade, um vício.
Os médicos proibiram, por fim desenganaram.
Pediu que a levasse uma última vez ver a arrebentação.
Quando as ondas quebraram aos seus pés, antes mesmo que alguém pudesse lhe impedir, aparou com as mãos e bebeu.
E, como que por milagre, caiu no mar uma última lágrima doce.
***
Como se a existência naquele instante ainda fosse possível, lembrou-se de como em sua julgada loucura, o sal lhe parecia muito mais amável do que o doce.

O sal era sua obsessão, sua escuridão, sua loucura, mas também sua salvação. 

Seria o último bel-prazer, doce como as noites solitárias, sua última resposta?
Julgariam o mar, presente de outrora, como sua pena e absolvição?
                       ***
Este texto conta com a linda participação de Newton Vitorasse!
Obrigada, New, por tornar Saldoce completo ❤️