quarta-feira, 22 de março de 2023

Diáfano

O amor é mesmo uma coisa sem tempo e sem termo. 
É a soma dos afetos. 
O que de nós eterniza o mais humano sagrado profano.

domingo, 24 de janeiro de 2021

Saldoce (A 2 mãos)

Era um estranho hábito aquele.
Ninguém jamais soube quando começou.
Antes fora um capricho, uma brincadeira. Que virou mania, depois necessidade, um vício.
Os médicos proibiram, por fim desenganaram.
Pediu que a levasse uma última vez ver a arrebentação.
Quando as ondas quebraram aos seus pés, antes mesmo que alguém pudesse lhe impedir, aparou com as mãos e bebeu.
E, como que por milagre, caiu no mar uma última lágrima doce.
***
Como se a existência naquele instante ainda fosse possível, lembrou-se de como em sua julgada loucura, o sal lhe parecia muito mais amável do que o doce.

O sal era sua obsessão, sua escuridão, sua loucura, mas também sua salvação. 

Seria o último bel-prazer, doce como as noites solitárias, sua última resposta?
Julgariam o mar, presente de outrora, como sua pena e absolvição?
                       ***
Este texto conta com a linda participação de Newton Vitorasse!
Obrigada, New, por tornar Saldoce completo ❤️

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Inércia

E agora que os céus nos ouviram e a vida deu uma pausa,
o mundo desacelerou.
E o relógio não despertou,
nem o telefone tocou.
E não precisou-se mais de sair às pressas.
Agora o café esfria na mesa,
enquanto se pensa na lista da feira, mas não há feira,
nem quermesse.
No rádio, TV e internet as mesmas velhas notícias.
De um mundo velho, de antigas tristes manias.
Sentimos saudades dos sonhos, empenhamos promessas.
Como quem assina um cheque sem fundos, tendo fé na loteria.

(em construção)