domingo, 16 de dezembro de 2012

No fim... de novo...

Sabe aquela conversa de que o ano passou rápido demais e que já estamos no final e tali coisa e coisa e tal? Ah nem, tô cansada até disso. 2012 para mim teve 12 meses a contar de março... sim, porque em março foi o fim de 2011.
Estou tão, mas tão cansada que estou começando a rever até que ponto se pode e compensa ir...
Estou irritada, sem paciência com mimimis, com as mesmas velhas notícias, com os mesmos melodramas e afins, com os mesmos votos e frases prontas....
Acho que o mundo não vai acabar dia 21, mas se assim o fosse eu iria aproveitar pra tirar umas férias....

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

À minha Belo Horizonte


Resta de mim miríade de papéis nas calçadas;
Bandeiras rasgadas, cavaletes empilhados;
O pó de concreto e asfalto que aos poucos apagam os rostos felizes nos muros, agora restos de antigas promessas de dias melhores, mais bonitos;
Meninos no parque, fumando escondidos ao lado do skate abandonado;
                      Rostos e corpos amontoados na condução que segue ao trabalho;

                                                   
Sou a notícia velha, do conservadorismo travestido de inovação;
Um nó de carros que tomam sempre os mesmos atalhos a fugir do inevitável;
O Horizonte cada vez mais encurtado por arranha-céus que sangram o que um dia foi Belo.


Débora Martins
outubro de 2012

sábado, 15 de setembro de 2012

Compêndio de uma manhã


Resolvi enumerar o volume de coisas que ouvi, li, aprendi, considerei e senti nessa manhã ensolarada de sábado, tendo como cenário a Praça da Liberdade - BH/MG.




  1. Sete luas, sete saias, sete histórias a contar;
  2. Nos seus  milhares de anos de existência, a humanidade persegue o sonho de eternizar-se na história;
  3. O preto é a ausência das cores, a ausência de um corpo, ausência...;
  4. Não vemos a luz, só é possível percebê-la na presença do corpo que a reflete;
  5. As cores são a máscara que emprestamos ao mundo, nosso melhor mecanismo de defesa.
  6. As pessoas que amamos e que nos marcam voltam para nós de maneiras inimagináveis...
  7. A felicidade não está no futuro [ele não existe], está na capacidade de reconhecê-la hoje.
  8. Melhor ouvir muito e pouco falar;
  9. Estar bem é aprender a relacionar-se com suas situações.

domingo, 2 de setembro de 2012

Beijinho

Tem dias que a gente literalmente deseja poder dar um beijo no caração de quem amamos para ver se algumas dores saram.

sábado, 1 de setembro de 2012

Ops!

Quando a gente pensa que a vida encontrou seu equilíbrio, que tá tudo encaixadinho.
Tudo posto e definido.
Vem um vento, e aí né....!?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Espiada

_ Oi ...
_ Oi Caminho.
_ Já não esteve por aqui antes?
_ ...
_  Vai seguir?
_ Não, não ouso.
_ Que vai fazer?
_ Observar quem por você passa...


Do paquiderme



Dizem que para domar um elefante, lhe prendem a uma corrente ainda novinho. Nos seus primeiros meses e anos tentará o elefantezinho seguir livre, mas sempre será puxado pela corrente e fustigado pela vara. Ao passar dos anos conhecerá exatamente sua medida e o alcance de sua liberdade. Já cansado de tantas tentativas sossega o espírito ou, quem sabe, o apazigua. Aprende ainda jovem o que pode  e o que não pode. A verdade é que, a corrente não acompanha o crescimento nem a sua força, mas isso pouco importa, porque não será mais demandada em sua tarefa de contenção, sua presença é simbólica. O Elefante não se arriscará a sofrer a dor da frustração nem ao chicote.

Mas, o que acontece quando já gigante descobrir a fragilidade de sua corrente? Sempre imaginei uma fuga sensacional. Obviamente, nos tempos modernos em que vivemos não faltam exemplos de elefantes descontrolados[?] fugindo pelas ruas. O fato é que os ousados são minoria, e fico pensando se todos os que estão sob as correntes são ignorantes de sua força sobre as mesmas. Talvez já tenham descoberto que o preço a se pagar pela fuga quase sempre é o extermínio. E nesse momento o senso de preservação os controla, pior que os elos nem tão fortes do aço, são aqueles que lhe fizeram subserviente a um estado de coisas.

Tem me ocorrido que, talvez, talvez, o elefante sempre soube que pode livrar-se. E, a despeito do seu iminente risco de morte, quando a ideia, ah... a renitente ideia de liberdade o possui,  já se vê dando os primeiros passos e depois a corrida para longe. Não importa se serão curtos os momentos em que viverá livre, serão certamente melhores que uma vida inteira de negação.

E, se escolhe permanecer como se não o soubesse das fraquezas de sua corrente, lembrará muito tempo depois que sempre foi livre, ainda que ninguém o soubesse. Aposentado e preterido, sem correntes, já sem forças para correr ou ir muito longe, se alegrará o velho paquiderme, com lembranças do que poderia ter sido, por onde teria andado livre?

Das amizades



Definitivamente as melhores coisas da vida, da minha vida, estão direta ou indiretamente ligadas aos anos de faculdade em Mariana/MG.  Eu não sei como seria outra história.
Ah... eu não era dessas que saía com os amigos todos os dias, não vivi inúmeras aventuras, nem tirei milhares de fotos, pouco me lembro de ter ido a algum bar comemorar o que quer que fosse. Mas, isso pouco determinou a efemeridade ou perenidade de minhas relações.

Por pura procrastinação demorei a verificar a etimologia[1] da palavra “Amigo” para confirmar ou refutar as suspeitas. Há um tempo venho tentando escrever sobre amizade –  e, honestamente, eu sei que esse texto não dará conta da empreitada – Não sei quanto a você, mas esse é para mim um dos grandes mistérios dessa vida.  A pois, vamos ao significado : "Amigo" vem do latim "amicus",  e na sua raiz "amo", que significa "gostar de", "amar".

Ah... Então é isso mesmo. A coisa ta pra lá de sentimento, está relacionada mesmo é  com atitudes e posicionamentos. Não há outra razão que justifique a sensação de uma quase euforia quando revejo meus amados. De repente, estou em casa, completa. O desconforto da despedida, por sua vez, é cada vez mais dolorido, mais sentido.

Os anos longe de casa fizeram de meus amigos mais que família, em tudo o que isso implica – em alegrias e desafetos... – Ao fechar os olhos sou capaz de lembrar de diálogos, de boas risadas e ótimas “panaiadas[2]”.

Ao voltar para Belo Horizonte, o contato com muitos deles restringiu-se aos e-mails, orkut e facebook, foram virtualizando-se. Mas, às vezes ganhamos de presente o prazer de viver exatamente o inverso, recentemente aprendi o sentido da palavra desvirtualizar!!!

Os encontros, cada vez mais raros, mostram que, embora a vida dê a cada um o seu curso, ela também mostra que cria elos que desconsideram, distâncias e tempo. São feitos dessa matéria incomum, extraída da alma, e que a gente costuma chamar de amizade.
 



[1] Pesquisa rapidinha, só mesmo para ter certeza do que já sabia. Cf http://pt.wikipedia.org/wiki/Amizade.

[2] Nome que dávamos na república Pocilga ao momento stress de resolver querelas, picuinhas, lavar as roupas sujas...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

À Conta-Gotas

Às vezes eu tenho a sensação de que está tudo revirado e de que a alma parece esvaziar-se à conta-gotas.
Assutam-me sentimentos dos quais não me lembrava que já sentira, muito menos imaginara que sentiria.
Assustam-me as esquinas e os encontros com caminhos que...
De repente algumas certezas já não são assim tão firmes, e o andar fica em falso, como bêbado nas nuvens.
De repente, eu só queria dormir e não sonhar. Sonho é matéria indomável, e quanto mais se tenta mais renitente fica.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Relicários

Espalhou-os sobre a mesa, não eram assim tantos.
Passou o olhar sobre cada um,
sorriso enviesado como quem revê pessoa de muito tempo atrás.
Todos ali, tirou-lhes o pó, contemplou-os mais uma vez.
Demorou-se nele, parecia brilhar mais que outros,
pensou em tocá-lo.
Quem sabe guardar mais junto de si.
Estremeceu-lhe a alma.
Enrolou o pano, guardou-os todos.
Melhor assim.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Qual é a cola?

Ando pensando sobre qual a cola que nos une a alguém. Une, gruda ou prega, sei lá, em alguns casos chega mesmo a fundir. 
Na verdade tem surgido certo incômodo em relação a isso. Nesses últimos dias convivi de perto alguns exemplos do que seria para mim o contrário de uma relação. 

Viver uma relação que, em muitos aspectos mais lhe oprime e esfacela do que constrói. A toda oportunidade uma das partes diz:
"Ele(a) é assim, tá vendo o que faz comigo, tá vendo como é chato(a)? E eu, honestamente, não compreendo por que então cargas d'água estão juntos (?)".

Ora se a cada reunião de amigos/família tem sempre algo desfavorável a dizer sobre a pessoa, se é proibido perder a oportunidade da piada sobre ela que, está sempre junto a si. Se, a principal marca é fazer os outros rirem dela, afinal, por que estar com ela? Por outro lado, por que ficar com quem lhe faz isso? São relacionamentos que já não são há muito. Perderam-se no caminho.

Não gosto de taxar ninguém mas, honestamente enquanto escuto as lamúrias, as injúrias a piadinhas de mau gosto, e vivo aquele constrangimento alheio, inevitavelmente penso:

"Burro é você que continua com ele(a)... estúpido é você com sua brutalidade... ridículo é você que fala mal da companhia que você mesmo(a) escolheu..."

Você me entende? O que quero dizer aqui é que, definitivamente, ninguém é obrigado a viver uma relação com alguém que não lhe satisfaz ou até mesmo lhe despreza. Que espécie de autopunição é essa? Como viver com alguém que lhe agride o tempo todo ou que lhe desperta para os piores sentimentos e reações? Como estar com uma pessoa que não lhe diz nada que possa te estimular, ou que não demonstra afeto público? Não me venha com essa conversa que em casa é carinhoso(a), quando está tranquilo é uma gracinha, mas é tão bacana, é tão  sincero(a)... Se sincero então tudo que declara sobre você em público é verdade. 

É de uma perversidade geral. É perverso viver nisso. Não estou pensando em vítimas aqui, porque não há. Só temos as relações que construímos. Amor, ódio, carinho, afeto não são sentimentos, porque se tratam de posturas. Eu decido amar, então eu cuido de nós - nada a ver com assistencialismo - isto é, eu evito aquilo que lhe chateia, eu faço  a minha parte para que você fique bem, eu busco melhorar minhas atitudes e comportamentos, de maneira que não prejudique ou exponha os que eu amo a coisas ruins, a situações desnecessárias. Percebe? A mudança acontece em mim. Não é que amar signifique fechar os olhos para os problemas do outro, mas só é possível promover mudanças positivas se somos capazes de mudarmos nós mesmos.  Obviamente, quem me ama, realmente ama, também terá atitudes próximas às que eu tomei.

Acontece que as pessoas amam a ideia que elas fazem sobre si e sobre o outro. Elas não amam a pessoa em si, mas o que gostaria que cada um fosse, amam o que lhes interessa. Na verdade, isso não é amor, é apego. Agarram-se ao que gostariam que o outro fosse. Conheço pessoas que não amam marido ou esposa, amam aquele namorado de dez, quinze ou vinte anos atrás. Esquece-se essa pessoa de que o tempo passou e ela também não é a mesma de quinze vinte anos atrás. O pior  de tudo é quando, de fato, esse marido e esposa continuam sendo os mesmos. Pararam no tempo, continuam infantis como se ainda adolescentes, casados vivem como se solteiros fossem  ou eternamente saudosos de quando o eram.

À certa altura, refazer tudo é extremamente desconfortável, o caos na relação torna-se uma zona de conforto, porque nele não há regras, não há o que fazer mesmo, então vive-se assim, se um cair o outro cai junto. Então, todo mundo equilibrando-se no fio bambo. Oba! Viver radicalmente!!!

Afinal não é exclusividade viver assim, e de onde se está a visão de mundo distorcida diz que é normal: é assim para todo mundo, iludido ou romântico demais é quem pensa ao contrário. Os valores vão se perdendo e no  lugar vai se colocando desejos, desejos, desejos...

E a felicidade está sempre por vir, sempre chega primeiro na grama verde do vizinho. Ah... Mas, o vizinho também tem lá os seus defeitos e vive uma vida tão chata, tão certinha...

Acontece que, quando o "Pau quebra" - permitam-me a expressão - é sempre o vizinho chato, o parente bobo ou os amigos certinhos que têm aquele socorro... (*¨#@^*=!!!)
Mas, isso é assunto para outro momento.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Entre a poesia e a referência

Nos últimos dias tenho relembrado o porquê de minhas escolhas acadêmicas e, consequentemente, do papel social que hoje exerço. Ao ler e sentir as palavras de Danilo, Edmar, Fabrício, e outros tantos queridos, eu sempre sorvi aquilo que não encontrava em minhas próprias palavras. Recentemente reencontrei aqui mesmo pela internet Leopoldo Committi. Pronto, dissolveram-se as dúvidas, lembrei-me de suas aulas, do descortinar de um mundo tão vasto, tão intenso que me fizeram sentir muito aquém.
A  Literatura me sobrepujou. Não é que não a ame, pelo contrário. Eu simplesmente não existo sem ela, mas recolhi-me à minha insignificância. Ela, talvez, seja a única que faça isso comigo. Porque em outros contextos sou bem atrevidinha. Assumi o papel de amante, daquelas bem sem-vergonha, da porta de trás do armário, no fundo do ônibus, da escada de acesso, na fila do banco. Descomprometida e ocasional, nada de compromissos, quase nenhuma exigência, ironicamente constante. A "safadeza", nesse caso, é estimulante!!!
Assim, incapaz de estabelecer uma relação decente e decorosa com a literatura, trilhei caminhos que me levaram ao estudo do discurso. Os temidos estudos linguísticos.
Acontece que,  a subjetividade é um vírus que não reconhece fronteiras. Eu que não quis me atrever ao fazer literário, também não dei conta dos rigores estruturalistas e gerativistas (coisas que te fazem persignar-se). 
Entre minha busca pelo dispositivo da linguagem e os namoros clandestinos com as disciplinas literárias encontrei a Análise do Discurso, e quando achei que seria outro deserto dei-me com a Semiolinguística. Ah... o esfarelar um texto, reconhecer e derrubar argumentos... Coloque um texto em minhas mãos e te revelo o mundo. Texto e contexto, sujeito e sociedade... a tal da sociodiscursividade. 
Acho que nessa minha travessia, descobri-me uma subversiva. Vivo do texto e namoro o texto. Vou subvertendo algumas lógicas. De alguma forma, descobri a poética nos textos referenciais, ao mesmo tempo em que reconheço na literatura - ainda que não dê conta de dizer o quê e como – muito mais do que o entreter. 
As palavras são um sertão sem fim, é o próprio viver, impossível divisar seus confins e, eu sei que é contra a ordem terminar com uma citação, mas alguém disse algo que fecha esse texto.

“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”

Guimarães Rosa

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Pequeno Príncipe


Para os meus diamantes do 7º ano!
Aqui está uma versão digital do livro O Pequeno Príncipe.  Aproveitem bem a leitura!!!
Abraços!
Profª. Débora Santos





quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Condição de Escravo e A Condição dos Livres

 Algumas vezes - na verdade muitas vezes, sou muito abençoada com os textos de meu primo Delor. Hoje compartilho com vocês um desses momentos.
Na esperança de que você se veja e sinta como filho, boa leitura.

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A Condição de Escravo e A Condição dos Livres -
Um breve olhar sobre o diálogo de Sócrates e Lísis e a da Carta de Paulo aos Gálatas

Em diálogo entre Sócrates e Lísis a respeito de ser filho e das limitações em ser um filho ainda não emancipado, sem poder de decisões ou seja alguém que não se encontra apto para agir com responsabilidade, citarei apenas um dos trechos, da fala de Sócrates e de Lísis (Platão, Diálogos IV, p. 280):

Sócrates: "Parece, então, que teus pais colocam um escravo acima de ti, que és filho deles, e lhe confiam aquilo que se recusam a confiar a ti, deixando que ela faça como queira, enquanto tolhem a ti? Diz ainda uma coisa: incubem a ti da tarefa de cuidares de ti mesmo ou também nisso não confiam em ti?"
Lísis: "Ora e como confiariam?"
Sócrates: "Então quem cuida de ti?"
Lísis: "Este meu guardião aqui."
Sócrates: "Suponho que um escravo?"
Lísis: "Sem dúvida! Um dos nossos"

Como vimos acima neste pequeno trecho do diálogo enquanto alguém não possui a autonomia ou a maioridade de acordo com suas convenções, em nada ele difere de um escravo, porque está sujeito a tantos outros embora seus criados. Vejamos como Paulo trata o assunto na carta de Gálatas em relação a Graça (liberdade pela fé) e a Escravidão (tutela da Lei):

"Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere do escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. Assim também nós quando éramos menores estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando porém chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, sob a Lei, para resgatar os estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial. E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito Santo do seu Filho, que clama: Abba, Pai! De modo que já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro, graças a Deus." (Gálatas 4:1-7).

Mais um pouco adiante Paulo chamara os filhos de Agar como filhos da Escravidão, e os filhos de Sara como filhos da Promessa ou para Liberdade. Os tutores são necessários enquanto não temos entendimento, nisso concordam Platão e Paulo, a filosofia e a teologia. Nosso desafio como homens e mulheres de nossa geração é identificarmos se nos reconhecemos como filhos que estão crescendo para liberdade como os filhos de Sara, ou se nos percebemos como filhos de Agar, aqueles que até o fim serão conduzidos por tutores, sem jamais chegar a maturidade da liberdade.

Então como se sente, seu coração neste momento, nascera para Liberdade ou para Escravidão?

Jesus te abençoe,

Delor Junior

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Da sua ausência

Partiu...
E talvez a dificuldade em escrever ou falar sobre isso seja a recusa da constatação de que se foi. Mas seus vestígios, antes marcas tão presentes, estão também desaparecendo, nas roupas já não encontro os seus pêlos, afora algumas desavisadas que há meses não recebem suas clandestinas visitas no esconderijo mais pefeito no fundo do guarda-roupa.
Já não sou mais confundida pela minha mente que por muito tempo insitia que via o seu vulto ou ouvia o seu miado. Não, já não olho para trás procurando a fonte do barulho. Já não acordo em meio à noite procurando pelo seu peso em meus pés. També deixei de acordar às seis da manhã esperando  seu pedido para abrir  a casa e você sair para o passeio da manhã.
As rolinhas e calangos tomaram conta do quintal, como que afirmando que agora você não os assustará mais... Chega a ser revoltante.
A vida segue e os afazeres vão se impondo...

Encontrei o seu macaquinho nessa semana e guardei na caixinha com as suas coisas. Sonhei com você. mas no sonho você também partia [pesadelo?]. Eu queria saber se um dia eu vou parar de chorar por você. 
E eu não sei se quero. 
Porque talvez a maior perda para mim será o dia em que terei de olhar para o seu retrato e constatar que, infelizmente, sua breve vida tinha mesmo dia e hora para acabar. E eu aqui, com essa vida humana - talvez a menos digna das que restam na terra, talvez viva ainda muito, até que sua foto amarele e se perca no tempo...

Cuidei tanto, amei tanto, e você se foi.
Prometi que nunca mais ninguém judiaria de você, que não sofreira mais... mas você sofreu. E talvez pensar que poderia ter evitado seja a minha maior punição, talvez.
Teria viajado menos, teria paparicado mais. Teria te dado todos os macaquinhos [de pelúcia] saltitantes que pudesse te dar, daria todos os sachês de molho de carne que você quisesse de mahã tarde ou noite. 

O vazio e o silêncio que às vezes tomam conta da casa não são simplesmente vazios, são a sua ausência... Mas que bobagem, não deixamos você ir, não há um dia sequer em que alguma coisa não nos lembre você, que não olhemos sua foto no mural e que não desejemos que houvesse mais dias...


Meu lado racional diz que fiz tudo o que pude, que você teve sorte em ter sido amparada por quatro anos, e que fui uma humana muito boa para você. Mas eu sei que na verdade eu é que fui privilegiada, porque você, Catarina, me ensinou desde cedo que todos merecem ser amados, que a vida é bela e cheia de presentes, mesmo por tão breve tempo.