Nos últimos dias tenho relembrado o porquê de
minhas escolhas acadêmicas e, consequentemente, do papel social que hoje exerço.
Ao ler e sentir as palavras de Danilo, Edmar, Fabrício, Pé e outros tantos
queridos, eu sempre sorvi aquilo que não encontrava em minhas próprias
palavras. Recentemente reencontrei aqui mesmo pela internet Leopoldo Committi.
Pronto, dissolveram-se as dúvidas, lembrei-me de suas aulas, do descortinar de
um mundo tão vasto, tão intenso que me fizeram sentir muito aquém.
A Literatura me sobrepujou. Não é que
não a ame, pelo contrário. Eu simplesmente não existo sem ela, mas recolhi-me à
minha insignificância. Ela, talvez, seja a única que faça isso comigo. Porque
em outros contextos sou bem atrevidinha. Assumi o papel de amante, daquelas bem
sem-vergonha, da porta de trás do armário, no fundo do ônibus, da escada de acesso,
na fila do banco. Descomprometida e ocasional, nada de compromissos, quase nenhuma
exigência, ironicamente constante. A "safadeza", nesse caso, é
estimulante!!!
Assim, incapaz de estabelecer uma relação decente e decorosa com a literatura, trilhei caminhos que me levaram ao estudo do
discurso. Os temidos estudos linguísticos.
Acontece que, a subjetividade é um vírus
que não reconhece fronteiras. Eu que não quis me atrever ao fazer literário,
também não dei conta dos rigores estruturalistas e gerativistas (coisas que te
fazem persignar-se).
Entre minha busca pelo dispositivo da linguagem
e os namoros clandestinos com as disciplinas literárias encontrei a Análise do
Discurso, e quando achei que seria outro deserto dei-me com a Semiolinguística.
Ah... o esfarelar um texto, reconhecer e derrubar argumentos... Coloque um
texto em minhas mãos e te revelo o mundo. Texto e contexto, sujeito e
sociedade... a tal da sociodiscursividade.
Acho que nessa minha travessia, descobri-me
uma subversiva. Vivo do texto e namoro o texto. Vou subvertendo algumas
lógicas. De alguma forma, descobri a poética nos textos referenciais, ao mesmo
tempo em que reconheço na literatura - ainda que não dê conta de dizer o quê e
como – muito mais do que o entreter.
As palavras são um sertão sem fim, é o próprio
viver, impossível divisar seus confins e, eu sei que é contra a ordem terminar com uma
citação, mas alguém disse algo que fecha esse texto.
“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”
Guimarães Rosa
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