quinta-feira, 26 de julho de 2012

Entre a poesia e a referência

Nos últimos dias tenho relembrado o porquê de minhas escolhas acadêmicas e, consequentemente, do papel social que hoje exerço. Ao ler e sentir as palavras de Danilo, Edmar, Fabrício, e outros tantos queridos, eu sempre sorvi aquilo que não encontrava em minhas próprias palavras. Recentemente reencontrei aqui mesmo pela internet Leopoldo Committi. Pronto, dissolveram-se as dúvidas, lembrei-me de suas aulas, do descortinar de um mundo tão vasto, tão intenso que me fizeram sentir muito aquém.
A  Literatura me sobrepujou. Não é que não a ame, pelo contrário. Eu simplesmente não existo sem ela, mas recolhi-me à minha insignificância. Ela, talvez, seja a única que faça isso comigo. Porque em outros contextos sou bem atrevidinha. Assumi o papel de amante, daquelas bem sem-vergonha, da porta de trás do armário, no fundo do ônibus, da escada de acesso, na fila do banco. Descomprometida e ocasional, nada de compromissos, quase nenhuma exigência, ironicamente constante. A "safadeza", nesse caso, é estimulante!!!
Assim, incapaz de estabelecer uma relação decente e decorosa com a literatura, trilhei caminhos que me levaram ao estudo do discurso. Os temidos estudos linguísticos.
Acontece que,  a subjetividade é um vírus que não reconhece fronteiras. Eu que não quis me atrever ao fazer literário, também não dei conta dos rigores estruturalistas e gerativistas (coisas que te fazem persignar-se). 
Entre minha busca pelo dispositivo da linguagem e os namoros clandestinos com as disciplinas literárias encontrei a Análise do Discurso, e quando achei que seria outro deserto dei-me com a Semiolinguística. Ah... o esfarelar um texto, reconhecer e derrubar argumentos... Coloque um texto em minhas mãos e te revelo o mundo. Texto e contexto, sujeito e sociedade... a tal da sociodiscursividade. 
Acho que nessa minha travessia, descobri-me uma subversiva. Vivo do texto e namoro o texto. Vou subvertendo algumas lógicas. De alguma forma, descobri a poética nos textos referenciais, ao mesmo tempo em que reconheço na literatura - ainda que não dê conta de dizer o quê e como – muito mais do que o entreter. 
As palavras são um sertão sem fim, é o próprio viver, impossível divisar seus confins e, eu sei que é contra a ordem terminar com uma citação, mas alguém disse algo que fecha esse texto.

“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”

Guimarães Rosa

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