segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Pelo que tomamos; e pelo que somos tomados...

Quando era criança, sempre que ouvia a expressão "pelo que me tomas?" - e geralmente em novelas de época mais passadas - ficava me perguntando que negócio é esse de tomar alguém? Rolava uma espécie de efeito "Fantástico Mundo de Bob" e só faltava eu imaginar alguém sendo bebido... Ok, o tempo passou e, enfim, a ficha caiu. Mas, uma pena que não se usa mais, é um arcaísmo... Por que será que as coisas mais bonitas de nossa língua andam caindo por aí heim..(assunto para outro texto)?
Mas o que quero falar aqui é sobre como vemos e somos vistos pelo olhar do outro. Há alguns anos eu conversava com um amigo sobre as pessoas com as quais andamos e temos por amigos. 
Ora mesmo com todos os protestos típicos de quem cursa as humanas, temos de admitir que o ditado "Diga-me com quem andas, que eu te direi quem és" é muito verdadeiro. Não estou aqui dizendo que somos o que são os nossos amigos, mas com certeza, nossas escolhas e amizades que construímos dizem muito sobre nós mesmos.
Neste Natal recebi a mensagem  de um amigo em que se dizia da alegria e o quanto a nossa amizade lhe trazia o orgulho e a felicidade. Fez-me lembrar que muitas vezes minhas primas dizem algo semelhante a mim, falam da importância da minha vida sobre suas vidas. Longe de jogar sobre mim confetes, pelo contrário. Cada vez que ouço ou leio algo do tipo tenho aquela diagonal na barriga, não me sinto nem um pouco, nem mesmo a metade de tudo isso. Me assombro. O fato é que sentimento semelhante, recíproco mesmo é o que tenho por essas pessoas.
Voltando à conversa de alguns anos atrás, eu dizia, e ainda penso assim, que temos por amigos aqueles nos quais nos reconhecemos, só buscamos conselhos daqueles que realmente sabemos que julgamos fazer melhor. O perigo está quando manipulamos esses conselhos, quando já de caso pensado procuramos exatamente aqueles que sabemos que não irão se opor ou que pensam exatamente como queremos. É uma tentação, tendemos a isso, mas é exatamente a qualidade de nossas amizades que nos protegerá dessa armadilha. O legal mesmo é quando não buscamos aquilo que nos agrada nos outros, mas quando reconhecemos e nos agradamos do que é o outro. Naturalmente vamos nos tornando parecidos. À medida em que caminhamos, vamos projetando uns nos outros características que selecionamos, burilamos e refinamos. Mas essas características não são propriamente natas de nós mesmos, muitas, senão a maioria, foram adquiridas na caminhada com outros tantos amigos. 
Eu penso que o melhor da amizade não é você encontrar pares que pensam como você, com gostos e preferências como as suas. Mas o melhor é quando construímos os elos, quando as tantas diferenças nos atraem e nos mostram que não somos unanimidade. E, quando as diferenças não se agridem, estamos prontos para vivermos as semelhanças. Estamos prontos para elogiar e receber elogios.
Hoje pela manhã, pensando na mensagem de natal que recebi, dei-me conta de que,  sim, posso ser tudo isso que dizem sobre mim. E o motivo é muito simples: o que sou é fruto das caminhadas, sou um misto de todo mundo, sou um múltiplo daquilo que deixam em mim. Não estou pronta, nem quero estar. Porque isso tiraria de mim a necessidade do outro. Eu preciso desse outro, preciso constantemente dar de mim para que haja espaço para receber. 
Não tome isso como falta de personalidade, ou inconstância - embora nesse caso a constância não exista mesmo - ser influenciável não é pecado. E o que tenho visto e aprendido é que todo fundamentalismo e radicalismo reflete a dureza que se apodera de nossas almas, quando pensamos ser absolutos. 
Eu só tenho certeza das coisas nas quais eu já fui confrontada. Minha fé só passou a ser legítima quando questionada, comparada à de outros amigos, ou mesmo com a falta de alguma, meus valores, só são valiosos a mim porque descobri outros aos quais eu quis e outros tantos rejeitei. Meus pré-conceitos só se tornaram conceitos na vivência com aquilo que antes eu julgava pelo que diziam.  Se manifestam hoje como posicionamentos.
Obviamente tudo o que sou, todas as escolhas só me foram possíveis  porque recebi durante a minha primeira formação caráter. Esse caráter sempre foi o filtro pelo qual vivenciei cada experiência. E, talvez, isso seja a única coisa realmente minha (embora tenha sido construído em mim), é o peso do prumo pelo qual tudo passa. Afinal, nem todos que eu conheço são meus amigos, e aliás, nem os quero como tal.
Chega uma fase em nossa vida que já somos capazes de identificar o que pode e vale a pena. Muitas vezes, esse reconhecimento, é melhor que a amizade. Ele nos polpa de certas tristezas, e nos permitem o coleguismo. Nesse ano mesmo, em que o valor das amizades revelou-se a mim como o maior tesouro (mais ainda do que eu já o tinha), também descobri que algumas não tentativas de amizade é a melhor forma de aproximação que posso ter de algumas pessoas. Não adianta, como disse mais acima, as diferenças não podem nos agredir, e tentar impor uma amizade esperando mudança da outra parte já é uma traição à relação que se pretende. Não se pode querer a mudança do outro. Isso não é desejar o melhor, é desejar moldar e querer fazer do outro um pedaço de si, isso é manipulação.
Porque amizade é exatemente o movimento contrário,  o reconhecimento de que é você que precisa do outro, é a amizade que ele lhe concede que te melhora.

Hoje só há um sentimento, o de gratidão a todos os meus amados, por me obsequiarem com a sua amizade.

ps.: o título desse texto deveria ser outro, outro, outro, de tanto "outros" que aparece... Mas quem conhecer outros termos que sibtituam o "outro", pode sugerir, e tentarei outra vez fazer as modificações...





5 comentários:

  1. Oi Débora,
    tudo bem?

    Curti o seu texto... o engraçado é que discuti hoje mesmo com o cônjuge sobre o fato de que, às vezes, as diferenças são essenciais em uma amizade, pois são complementos, diferentes de pontos de vista, outros lados do prisma. Às vezes a igualdade limita... e entedia.
    Também creio não ser possível (e nem saudável) ser amigo de todos; tampouco ser completamente inflexível. Creio sermos todos moldáveis - todos. E isso é que é incrível na existência.

    Um grande beijo, e feliz 2012!
    Lu Peixoto.

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  2. Oi AMIGA...que orgulho tenho de vc...Linda, Simpática, Inteligente e Companheira, e olha que ha pessoas que defedem que não é possível a combinação destes adjetivos...vc é prova viva disso (e olha que odeio puxasaquismo...rs)...Como sempre seu texto fala com propriedade tudo aquilo que acreditamos...somos o que queremos ser e nossas amizades são frutos disso...então que continuemos com este desejo de querer sempre combater o mal combate, de semear somente o que é positivo...com vc tenho aprendido muito...obrigada por me deixar fazer parte de sua vida e por aceitar fazer parte da minha...bjs...Amo vc!!!
    Quezia

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  3. Oi prima! Porque não me surpreendo ao ler este texto. Eu não podia esperar nada diferente de você. Se aprendemos com os "outros" posso dizer que aprendi com você a valorizar o que cada um é. Independente concordar com as escolhas e personalidades.

    Neste ano eu percebi que é melhor abraçar que esperar um abraço, é melhor ligar que reclamar que não recebo um telefonema. É melhor amar, doar, cuidar do que esperar que alguém adivinhe o que eu desejo. Quando a gente cuida a gente recebe cuidados. Quando a gente ama a gente é amado!

    Fiquei muito feliz ao aprender mais uma lição com você! Meu exemplo, minha amiga!

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  4. Ah prima... vc é mesmo minha alma gemea!!! nao posso conter as lagrimas aqui... vc tem uma capacidade que é quase divina: a capacidade de despir a minha alma...
    e como esse texto tem a ver com a minha e com a nossa vida... neste ultimo ano tenho aprendido da importancia de construir relacoes saudaveis e da beleza que há em doar por amor...
    que 2012 caminhemos mais e mais nessa realidade... que nosso equilibrio constranja a todos a uma vida excelente... assim como temos buscado primeiramente em nós....
    eu te amo!!!!!!!!
    Preciso inventar um nivel de parentesco novo... acho que prima ja nao está comportando mais!!!
    bjus

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  5. Obrigado por respeitar nossas diferenças e ampliar nossas identidades, Dézinha. Tomo-te por uma figura muito importante em minha vida. Um beijo.

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