É... parece mentira... mas já estão indo embora. E não foram poucas as vezes em que aproveitei cada momento que tive para dizer: os melhores de toda uma vida já vivida.
Nasci mulher, mas me vi mulher quando fiz 30 anos. Ainda me lembro de olhar no espelho e começar a sorrir pelo que via. Toda a história. Desde então cada dia vivido é um motivo de agradecimento, desde então não há mais medo do envelhecimento, porque envelhecer é para os que têm o privilégio de viver.
Mas viver não é simplesmente existir. Viver é deixar rastros, pegadas, cabelo, unha sangue, suor, lágrimas, saliva, gozo. Viver é fazer as pazes consigo mesmo é gostar de conviver com esse ser que habita o seu corpo... "
Viver é perigoso, requer coragem¹", a coragem de ser como é; de se melhorar por amor a si mesmo; a coragem de assumir que não sabe, talvez nunca saberá. Da leveza de admitir que errou e vai errar de novo e feio, e então... oops! Errar, de novo.
Da coragem de jogar pro alto e deixar se estatalar e arrebentar no chão toda a aprendizagem e crença de uma vida inteira (padrões, valores, fé, espiritualidade, relacionamentos...) e... olha só, o que é verdadeiro permanece intacto.
Da coragem de ter medo... medo de perder os que ama; de não ser melhor que o seu discurso sobre si; medo de não reconhecer o que os olhos refletem no espelho, ter medo de usar as lentes consumistas e ditadoras de um padrão de beleza. Medo de não viver como se deve o melhor dia da vida: hoje. Entender, acima de tudo, que medo não é trava, pelo contrário: é o estopim para explodir em várias porções de coragem, de fazer correr e lançar-se para o que se quer, se deseja, se ama.
Da coragem de dizer adeus ao amor que se vai, de entender que quando não se cuida do relacionamento o sentimento já não basta, entender que insistir ou ter insistido pode estragar irreversivelmente esse mesmo sentimento e já não há. Da coragem de não aceitar a ideia de culpa, mas admitir responsabilidades, que são mútuas.
Da coragem de dizer sim ao amor, aos amores que virão. Muita coragem de se permitir ao novo, ao inesperado, ao que não foi projetado, e às vezes até dito "nunca, jamais"... Da coragem de não fazer de novo do mesmo jeito sempre... Errar, vai errar mesmo, mas ser criativo ajuda, neh.
A coragem de sair das margens e seguir a travessia.
A coragem de ser feliz, de se fazer feliz!!! A coragem de dizer que não se sente feliz. Mas sobretudo a coragem de não desistir de capturar essa Dona Felicidade,. Mas hoje, agora.
Sonhar, e viver o sonho agora, e quando ele se fizer real, será pleno.
¹ - Guimarães Rosa