Ando pensando sobre qual a cola que nos une a
alguém. Une, gruda ou prega, sei lá, em alguns casos chega mesmo a
fundir.
Na verdade tem surgido certo incômodo em relação
a isso. Nesses últimos dias convivi de perto alguns exemplos do que seria para
mim o contrário de uma relação.
Viver uma relação que, em muitos aspectos mais
lhe oprime e esfacela do que constrói. A toda oportunidade uma das partes diz:
"Ele(a) é assim, tá vendo o que faz comigo,
tá vendo como é chato(a)? E eu, honestamente, não compreendo por que então
cargas d'água estão juntos (?)".
Ora se a cada reunião de amigos/família tem
sempre algo desfavorável a dizer sobre a pessoa, se é proibido perder a
oportunidade da piada sobre ela que, está sempre junto a si. Se, a principal
marca é fazer os outros rirem dela, afinal, por que estar com ela? Por outro
lado, por que ficar com quem lhe faz isso? São relacionamentos que já não são
há muito. Perderam-se no caminho.
Não gosto de taxar ninguém mas, honestamente
enquanto escuto as lamúrias, as injúrias a piadinhas de mau gosto, e vivo
aquele constrangimento alheio, inevitavelmente penso:
"Burro é você que continua com ele(a)...
estúpido é você com sua brutalidade... ridículo é você que fala mal da companhia
que você mesmo(a) escolheu..."
Você me entende? O que quero dizer aqui é que,
definitivamente, ninguém é obrigado a viver uma relação com alguém que não lhe
satisfaz ou até mesmo lhe despreza. Que espécie de autopunição é essa? Como
viver com alguém que lhe agride o tempo todo ou que lhe desperta para os piores
sentimentos e reações? Como estar com uma pessoa que não lhe diz nada que possa
te estimular, ou que não demonstra afeto público? Não me venha com essa
conversa que em casa é carinhoso(a), quando está tranquilo é uma gracinha, mas
é tão bacana, é tão sincero(a)... Se sincero então tudo que declara sobre
você em público é verdade.
É de uma perversidade geral. É perverso viver
nisso. Não estou pensando em vítimas aqui, porque não há. Só temos as relações
que construímos. Amor, ódio, carinho, afeto não são
sentimentos, porque se tratam de posturas. Eu decido amar, então eu cuido de
nós - nada a ver com assistencialismo - isto é, eu evito aquilo que lhe chateia, eu
faço a minha parte para que você fique bem, eu busco melhorar minhas
atitudes e comportamentos, de maneira que não prejudique ou exponha os que
eu amo a coisas ruins, a situações desnecessárias. Percebe? A mudança acontece
em mim. Não é que amar signifique fechar os olhos para os problemas do outro,
mas só é possível promover mudanças positivas se somos capazes de mudarmos nós
mesmos. Obviamente, quem me ama, realmente ama, também terá atitudes
próximas às que eu tomei.
Acontece que as pessoas amam a ideia que elas
fazem sobre si e sobre o outro. Elas não amam a pessoa em si, mas o que
gostaria que cada um fosse, amam o que lhes interessa. Na verdade, isso não é
amor, é apego. Agarram-se ao que gostariam que o outro fosse. Conheço pessoas
que não amam marido ou esposa, amam aquele namorado de dez, quinze ou vinte
anos atrás. Esquece-se essa pessoa de que o tempo passou e ela também não é a
mesma de quinze vinte anos atrás. O pior de tudo é quando, de fato, esse
marido e esposa continuam sendo os mesmos. Pararam no tempo, continuam
infantis como se ainda adolescentes, casados vivem como se solteiros fossem ou
eternamente saudosos de quando o eram.
À certa altura, refazer tudo é extremamente
desconfortável, o caos na relação torna-se uma zona de conforto, porque nele
não há regras, não há o que fazer mesmo, então vive-se assim, se um cair o outro
cai junto. Então, todo mundo equilibrando-se no fio bambo. Oba! Viver radicalmente!!!
Afinal não é
exclusividade viver assim, e de onde se está a visão de mundo distorcida diz que é
normal: é assim para todo mundo, iludido ou romântico demais é quem
pensa ao contrário. Os valores vão se perdendo e no lugar vai se
colocando desejos, desejos, desejos...
E a felicidade está sempre por vir, sempre chega
primeiro na grama verde do vizinho. Ah... Mas, o vizinho também tem lá os seus
defeitos e vive uma vida tão chata, tão certinha...
Acontece que, quando o "Pau quebra" -
permitam-me a expressão - é sempre o vizinho chato, o parente bobo ou os amigos
certinhos que têm aquele socorro... (*¨#@^*=!!!)
Mas, isso é assunto para outro momento.