Normalmente uso esse termo para aquelas notícias que todo mundo já sabe, já ouviu falar e que de vez em quando aparecem na TV ou no rádio com ares de novidade. Ah, pois...
Hoje aconteceu comigo, entretanto, o que me doeu, e muito, foi o fato de, desde o início, conhecê-la já velha.
Contextualizando, eu acho um s... essa época de 11 de setembro. Primeiro porque acho muito mórbido para além do que já foi horrível mesmo, ficar remoendo o 11 de setembro de 2001. O caso náo é que eu ache que devamos esquecer o que houve, não é isso. Pelo contrário, devemos sim lembrar, nos compadecermos das vítimas e suas famílias. Mas, é que um mês antes já se anuncia nos jornais de diversas mídias o "mês 11 de setembro", uma semana antes começa a série de reportagens "11 de setembro, 1, 2, ... 10 anos depois", e chega-se ao clímax, "especial 11 de setembro, os sobreviventes do maior ataque terrorista..." Aff, a gente chega a desligar a tv e preferir nem ouvir o rádio. O que mais me irrita é que o ataque às Torres, ao Pentágono e os sequestros dos aviões deveriam ser tratados com mais respeito, com menos espetáculo, deveria ser enxergado como o efeito colateral de uma cultura doentia em que se deve prevalecer a todo e qualquer custo o "american way" de ser.
Apesar de ser o único visto ao vivo, por mim e por muitos, não foi o primeiro, não foi o último, tampouco o pior de todos. Ele é mais assustador a nós que muitos outros porque nos acostumamos a olhar para os EUA como os intocáveis, os insuperáveis, e crer que alguns aldeões fizeram algo daquela proporção nos choca. Mas, deveríamos nos chocar mais com o fato de que esses aldeões afegãos/paquistaneses foram alimentados, ensinados, treinados e armados pelos próprios EUA. Não foram eles que no início dos anos 80 armaram até os dentes os afegãos para vencer os russos e depois os deixou à sorte? Ou melhor à má sorte?
Muitas outras reflexões cabem aqui, mas por hora essas já nos dizem que não podemos olhar o 11 de setembro de 2011 como um ato bárbarao sem causas que o expliquem. Enfim, sempre que posso evito os especiais 11 de Setembro, nessa época do ano.
Mas hoje, conheci uma parte da história que me deixou arrasada.. é, não tenho outra expressão que defina melhor o que senti. Assisiti a um vídeo sobre um outro 11 de Setembro, o de 1973, no Chile. Eu fiquei simplesmente horrorizada e arrasada com o que se pode fazer em nome do que se acredita ser melhor para outro país, ou melhor, o que se pode fazer para manter seu sinteresses acima de tudo. Cresceu em mim uma revolta contra os EUA que sempre tento não deixar aflorar, porque tenho de separar governo de população, ao mesmo tempo em que vejo que esta lhe aprova em muitas de suas perversidades, por acreditar que são exemplo de democracia e soberania. Como chorei ao ver o sonho de um povo morrer e ser aniquilado pela covardia. Como me doeu ver imagens de pessoas comuns terem negados os seus direitos, sua liberdade, seu líder. Como foi trsite ver que havia um governo que dava certo, que crescia e que foi destruído e substituído pelas mãos de Ferro de Pinochet, mas mais ainda que ele teve a ajuda militar, claro, do país que julga ser o berço da liberdade. Como chocaram as imagens dos mortos por tentarem resistir, como...
Honestamente, prefiro mesmo não deixar aflorar o sentimento que naturalmente vem ao pensar sobre esses fatos, porque creio que o 11 de setembro de 2001 já é, como disse mais acima, um efeito colateral dessa doença americanista de viver e sujeitar o mundo e que, infelizmente, pode não ser o último. Então, basta ao mal, o seu próprio mal.
Eu me sinto muito triste porque nunca li sobre o 11 de setembro no Chile, eu nunca vi isso em meus livros de história, até agora há pouco sentia-me envergonhada por isso, mas descobri que muitos também não conheciam (em) essa história. Por que cargas d'água eu nunca ouvi falar disso na escola, por que não aparecem memoriais, documentários e reportagens sobre o que aconteceu com nossos irmãos latinos? Aliás por que somos tão bombardeados por essa cultura estadunidense em detrimento da cultura latina, tão mais próxima e legítima a nós? Céus como me sinto, neste momento, alheia e superficial sobre a história do meu próprio continente. Como me senti roubada de mim mesma.
Eu anseio dias melhores em que conheceremos nossa história sem o vermelhoazul da bandeia estadunidense como filtro, espero que nossos filhos conheçam a história das independências conquistadas a sangue pelo povo, e tenham nelas o real significado do que é independência, do que é de fato ser livre. Que a democracia não se resume ao voto, tampouco que a cidadania é apenas o direito de ir e vir, comprar e vender.
Há três meses os jovens chilenos iniciaram uma revolução, estão nela agora trabalhadores, homens e mulheres comuns que entendem que a educação é o viés por onde se constrói a identidade de um povo, que não é possível ser livre e viver num estado democrático se não houver conhecimento. Temos a chance de tomarmos o seu exemplo e construirmos também uma nova história, para que não sejamos vítimas ou reponsáveis por outros(s) 11 de Setembro.