sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Da sua ausência

Partiu...
E talvez a dificuldade em escrever ou falar sobre isso seja a recusa da constatação de que se foi. Mas seus vestígios, antes marcas tão presentes, estão também desaparecendo, nas roupas já não encontro os seus pêlos, afora algumas desavisadas que há meses não recebem suas clandestinas visitas no esconderijo mais pefeito no fundo do guarda-roupa.
Já não sou mais confundida pela minha mente que por muito tempo insitia que via o seu vulto ou ouvia o seu miado. Não, já não olho para trás procurando a fonte do barulho. Já não acordo em meio à noite procurando pelo seu peso em meus pés. També deixei de acordar às seis da manhã esperando  seu pedido para abrir  a casa e você sair para o passeio da manhã.
As rolinhas e calangos tomaram conta do quintal, como que afirmando que agora você não os assustará mais... Chega a ser revoltante.
A vida segue e os afazeres vão se impondo...

Encontrei o seu macaquinho nessa semana e guardei na caixinha com as suas coisas. Sonhei com você. mas no sonho você também partia [pesadelo?]. Eu queria saber se um dia eu vou parar de chorar por você. 
E eu não sei se quero. 
Porque talvez a maior perda para mim será o dia em que terei de olhar para o seu retrato e constatar que, infelizmente, sua breve vida tinha mesmo dia e hora para acabar. E eu aqui, com essa vida humana - talvez a menos digna das que restam na terra, talvez viva ainda muito, até que sua foto amarele e se perca no tempo...

Cuidei tanto, amei tanto, e você se foi.
Prometi que nunca mais ninguém judiaria de você, que não sofreira mais... mas você sofreu. E talvez pensar que poderia ter evitado seja a minha maior punição, talvez.
Teria viajado menos, teria paparicado mais. Teria te dado todos os macaquinhos [de pelúcia] saltitantes que pudesse te dar, daria todos os sachês de molho de carne que você quisesse de mahã tarde ou noite. 

O vazio e o silêncio que às vezes tomam conta da casa não são simplesmente vazios, são a sua ausência... Mas que bobagem, não deixamos você ir, não há um dia sequer em que alguma coisa não nos lembre você, que não olhemos sua foto no mural e que não desejemos que houvesse mais dias...


Meu lado racional diz que fiz tudo o que pude, que você teve sorte em ter sido amparada por quatro anos, e que fui uma humana muito boa para você. Mas eu sei que na verdade eu é que fui privilegiada, porque você, Catarina, me ensinou desde cedo que todos merecem ser amados, que a vida é bela e cheia de presentes, mesmo por tão breve tempo.